Como a violência psicológica destrói vidas na escola
O bullying não é um rito de passagem nem algo que crianças e adolescentes simplesmente superam com o tempo. Suas consequências podem ser graves e duradouras, afetando o desempenho escolar, a autoestima e até a saúde mental das vítimas. Em casos extremos, a violência psicológica e digital leva a quadros de depressão profunda, automutilação e até suicídio.
No Brasil, um em cada cinco alunos de 15 anos já sofreu intimidação ou constrangimento na escola, segundo os últimos dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes da OCDE) de 2022. Recentemente, um caso alarmante ocorrido no tradicional Colégio Ipiranga, em Petrópolis, revelado pelo blog do Ancelmo Gois, expôs a face mais cruel do problema.
Um aluno de 13 anos do 8º ano denunciou um colega de turma por perseguição, ameaças e até indução à automutilação em grupos de WhatsApp da escola. Em uma das mensagens, o agressor ordenava que a vítima engolisse uma lâmina de três pontas e, caso se recusasse, ameaçava divulgar seus dados pessoais na internet — prática conhecida como doxing. Pouco depois, informações privadas da família do jovem foram expostas em outro grupo. Em nota oficial, a direção do colégio disse que as ameaças aconteceram em um subgrupo de troca de mensagens de alunos e serão investigadas pelos órgãos competentes. Também assegurou que entrou em contato com a família do aluno acusado tão logo tomou conhecimento da denúncia.
Para além da investigação policial já em curso, a psicóloga Maíra Andrade, da Unig, chama a atenção para a importância de um mergulho mais aprofundado na origem dos conflitos em ambiente escolar. Ela alerta que “a violência, seja verbal ou física, pode ser motivada por diferenças entre os alunos, disputas por poder, aparência, desempenho escolar ou fatores socioculturais. As consequências são graves: isolamento, queda na autoestima, depressão e até síndrome do pânico. A escola precisa estar atenta aos sinais, acolher os alunos em sofrimento e promover campanhas de conscientização e respeito às diferenças”.
Quando o bullying se torna um risco iminente
Os pais da vítima do Colégio Ipiranga só descobriram a gravidade da situação no dia 18 de fevereiro, ao notarem mudanças no comportamento do filho. Ao terem acesso às mensagens, ficaram em choque com o nível de violência psicológica a que o adolescente estava sendo submetido. O caso foi registrado na delegacia da cidade e, na próxima semana, já deve acontecer a primeira audiência no Ministério Público.
Sinais de alerta para pais e professores:
Mudanças no comportamento:
– Isolamento repentino e recusa em socializar
– Mudança brusca no humor, tornando-se mais triste, irritado ou ansioso
– Afastamento de amigos ou atividades que antes gostava
Desempenho escolar:
– Queda no rendimento e desinteresse pelos estudos
– Dificuldade de concentração e aumento na frequência de erros
– Recusa ou medo de ir à escola
Sinais físicos e emocionais:
– Dores frequentes sem causa aparente (cabeça, estômago, etc.)
– Distúrbios do sono, como insônia ou pesadelos constantes
– Alterações no apetite (comer muito mais ou muito menos do que o normal)
Mudanças na comunicação e autoestima:
– Expressões frequentes de baixa autoestima (“Sou burro”, “Ninguém gosta de mim”)
– Medo excessivo de críticas ou falhas
– Relutância em falar sobre a escola ou mudanças súbitas de assunto quando questionado
Possíveis sinais de risco grave:
– Marcas no corpo que podem indicar automutilação
– Mensagens ou desenhos com temas de tristeza profunda, desesperança ou morte
– Falas sobre sentir-se inútil ou sem saída
Fotos: Freepik.
Carla Rocha
carla.rocha@donacomunicacao.com.br
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